sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

''Minha Sombra''

Meu irmão gêmeo disforme
Minha sombra que me urge
Na Lua minguada surge
E no Sol abrasante agoniza
Meu irmão mais que irmão, confidente
Das minhas dores nenhuma sente
Porém pouco tempo me abandona;
Ao breu intangível de meu quarto
Comigo deita, como um’alma ao morto que retorna
Se junta algo que nunca devia ter-se desjuntado
Como carne que do avesso o fogo reluz
A vermelhidão vivaz celular
Se me por do avesso também
Verás que uma sombra também sou!
Vinícius M. Maciel

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

''O Enfermo''

Que vermiformes carniceiros em ti esconde
Por todo podre coração alastrado
É negro e viscoso este enfermo
De profundas cavernas pulmonares
Está preto o sangue que nas veias corre
Que pelos olhos feito lágrima escorre
A escuridão formosa dos mistérios
E o calor ardente dos delírios

Não sei de que todo o esforço vale
Se teu estado mórbido é preponderante
E até tua sombra à caquexia está entregue
Com tu'alma imersa em peçonha
Mesmo a enfermeira que tanta morte assistiu
Embrulha o estomago ao ver teu corpo vil
Sentir-se enojado pelos próprios parentes
E cortejado pela obsessão dos vermes
Feito estercorário no engulho excremento

Teu corpo é um imã de carmas desgraçados
Não sei quantos gatos pretos olhou
Ou quantos espelhos quebrou
Pois tem vocação de um mestre infortunado
Deve ter atirado pedregulhos na cruz
Pois sofre mais que o crucificado
Com chagas que o vermelho na alma reluz
À espera da morte igual condenado

Hei de um dia cessar essa intracefálica tortura
Pois só uma coisa ainda murmura
Pede a morte mais que a cura
A desvinculação com este corpo morfeico

Como o atrasado crepúsculo de solstício
Finalmente cumpre seu intento
De corruptas necroses em feridas
Finalmente larga a vida, e tem o corpo levado pelo coveiro
E a alma extinta da existência
E se já não tarde, a dor se finda

Igual papiro velho tua foto desbota
De um amarelo lôbrego como os olhos de um anêmico
E esfarela na imensidão do esquecimento
Das próximas gerações de teu primogênito
Vinícius M. Maciel

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

''Me Ame''

  Sei que vai chegar bêbeda, descabelada, de madrugada, quebrando o salto, mancando, toda borrada, cansada, sorrateira na surdina da noite que te entrega, à luz da lua, pálida, faminta, suada, meretriz famigerada. Mal se dá ao respeito, que dormisse na rua, pois então, me evitaria de ver tal luxúria! Logo eu, triste borracho, cansado de festas e do azar maculado; casaste, não comigo, coitado, casaste com Cristo, ó Madalena, cadela safada! Antes fosse apedrejada, mas estás aqui comigo, fingida, frigida, mal amada e calada. Sabe, pois sim, estou certo, queria eu estar errado, queria eu ser amado, e estar deitado a cama intrépido, trepando, confabulando segredos noturnos; ouvindo gemidos, sussurros no ouvido, mordidas, saliva, fluídos corpóreos -  quem queres enganar, andaste por aí na rua a praticar? Troca de interesses, favores, frivolidades... Tu és uma vagabunda de respeito! Queria espancar-te a cara, dá-lhe uns tapas, arrancar-te uns beijos e depois jogar-te fora, fazer o mesmo contigo que fazes comigo. Então, dá-me logo um trago desse vinho, e um pouco da tua língua de tabaco!
 Vinícius M. Maciel

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

‘’Sonhar (A Esperança dos Tolos)’’

Sonhar é o consolo dos fracos
A esperança dos tolos
O erro dos desavisados
E o desejo dos insones
É desatino de quem é triste
Pois não se sonha em ser feliz
Pois ser feliz não existe
Vinícius M. Maciel