quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

''Como For (Como Quer Que Seja)''

Procurei o tempo todo fugir de ti
Indo ao encontro teu…
Mas de que falo,
da morte, ou do amor?
Me aquece a angústia
Nos braços frios do ceifador
Contente fico com a falta
Sustenta minha vida essa busca (da dor)
E no caminho espero topar
Seja com a morte
Seja com o amor…
Vinícius M. Maciel

terça-feira, 19 de novembro de 2013

''Inferno Astral''

Me assusto com isso - de te ter ao meu lado
Tão compenetrada, suada, nua; suspirando...
Será se é isso que quero se só me importo em sofrer?
Será se encontrei outro riso que me acalma, acalenta a alma e me faz querer viver?
Me assusta o susto, de logo depois estar só, e querer estar só
mesmo com a mente longe, acariciando o desespero
E enxergando a perder de vista, o sono...
Querer não é poder quando o assunto é morrer
Pois assim como amo o que quero e não posso ter
Amo também a morte e assim vivo!
Fujo do quente e me queimo
Fujo do frio, e gelo, fico morno e paraliso!
Paraliso nos longos curtos anos, horas, minutos
que antecedem a doença, o castiçal sem velas
E a minha espera visceral pelo vazio que preenche o meu peito!

terça-feira, 29 de outubro de 2013

''Madrugada dos amantes''

Madrugue, meu bem
Que o amanhã ninguém diz
Vamos sair, visitar a Lua
Nos embriagar por toda rua
Sem donos, um do outro, tolos
Iluminados pela triste luz pálida
dos postes, na calada…
Quero girar bêbado em teus braços
Cair tonto, entorpecido pelo ódio das drogas
E pela melódia melancólica de um blues antigo
Quero me afogar no teu riso fácil
Andar de mãos dadas no precipício
Na corda bamba, com os olhos vendados
E quando cairmos, que seja na cama
E se deitarmos, que seja de cansaço
Do gozo, dos dois corpos num!
Morreremos nos suspiros, nos corações agitados
Na pele suada, com a mente em transe
Enquanto a fumaça nos consome, a bruma nos dorme
E quando acordar ao lado teu, verei que ainda sonho

Vinícius M. Maciel

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

''Escravo da Esperança''

Sente que está tudo acabado,
ninguém mais põe sequer o seu prato à mesa
É um fantasma a vagar na própria casa
Ignorado, só as paredes lhe ouvem
E só a rua o acolhe
Abatido, anda por ai…
E trabalha feito os operários
da própria destruição
Bebe na jarra do escárnio
e ri, mesmo sem entender a piada
Almeja mudar, eterno escravo da esperança
Procura a morte na noite
Como quem procura o amor
Adormece, anseia o sonho dos tolos
e não mais acordar
Acorda, escarra arrependimento junto a sangue
Chora, acredita em Deus
e tem medo de morrer…
Vinícius M. Maciel

terça-feira, 11 de junho de 2013

''O Repouso''

Deita e morre
Pois há no sono um sonho
O consolo prévio
O descanso da inquietação
Cura a doença do dia
Tira o Sol das costas
E o infortúnio dos cristãos
Deita e morre
Pois há na morte um sorriso
Destoando do siso
O abraço da solidão
Fecha a janela dos olhos
Mesmo com o ranger do quiço
E o ferrolho emperrado
Do azar dos insones…
Deita e morre,
e dorme!
Acorda, enfim
Do pesadelo, ele, clamado vida...
Vinícius M. Maciel

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Assombradiço (À Sombra disso)

Chegada a noite, tu anoitece
Adormece, mesmo com os ratos que arranham o forro
Na pia, feito um estalactite sob a louça suja
Como o tic-tac do relógio – terríveis ponteiros
Assombroso, escurece
Feito tortura nazista, enlouquece
Escala corredores vazios, paredes opacas
Ecoa a solidão
E o silêncio grita que ensurdece
Se debruça em lençóis, pesadelos
Com o ranger do que há muito não viu óleo
Vigiado por aqueles pesarosos olhos
Reza, para que o dia chegue logo…
Vinícius M. Maciel

segunda-feira, 13 de maio de 2013

''Narcose''

Tão certo quanto a gravidade
Tal como o fumo da kriptonita atônita
Queimando cérebros
De névoas inebriantes
Ao famoso trago
Pois é só isso que comigo trago
As nuances do vicio e o tabaco envenenado
Pouca fome: fome de viver
A doença é um cigarro aceso
A veia pulsante e as narinas sedentas
Frita na caldeira do inferno
Que a felicidade existe, é um tapa buraco
Vinícius M. Maciel

terça-feira, 30 de abril de 2013

''Hecatombe''


Tenho paixão pela carnificina
Por essa chama assassina
O prazer pela tortura, com os olhos do verdugo

- Senta e assiste, covarde!
Assiste a mutilação do teu âmago
A dilaceração de tuas entranhas
E o cessar dos teus suspiros
És insensível para com teus sentimentos
Insiste, engasga e cospe sangue
Tudo para ti é sofrimento
E se ousas desprender-te disso algum’hora
Vê que é um saco sem fundo esse vazio

Então […]
Se o prazer do nada é o que eu sinto
Não necessito preencher esse recinto
Minha memória é um calabouço
E a morte, quiçá, minha alforria…
Vinícius M. Maciel

sexta-feira, 26 de abril de 2013

''A Mariposa''


Em sua gênese, uma larva
Lamentava ainda a morte do seu irmão, o verme
Que pela violência do arado se ceifou
Satisfeita, não desfeita
Enclausurou-se num casulo, longe do mundo
A espera de bela’sas da cor dos risos
Destemida, aspirava crisálida
Ninfa, brechava do escuro
Criou-se então uma obsessão
Pela luz ficou louca, e nada brilhou
Insanos olhos noturnos
Esdrúxula, uma mariposa se tornou
Vinícius M. Maciel

domingo, 21 de abril de 2013

''A Esmo''


Esse vazio não se preenche com o copo
Logo noto: como é triste viver
Esse trago insoluvél diante do nada – me envena a alma
Retira a saúde do meu corpo
e me traz mazelas dos meus antepassados ébrios
Me confronta a carne, o prazer e a morte
E meu coração doudo ama a esmo
Na esquina, esquecido, pede esmola e passa fome
Vinícius M. Maciel

quarta-feira, 17 de abril de 2013

''Desalmado''


Sem a esperança do desempregado
Foge do fôlego – degolado!
Ante ao desespero fiz um pacto
E é o demônio que vem toda noite me cobrar
Com um fantasma do teu retrato.
Leva logo meu coração, se não minh'alma
Pois mais desalmado que isso eu já não fico!
Cava minha cova, longe da raiz da grama que cresce
E perto do inferno que as chamas aquecem
Pequei a vida inteira, e morri sem fé, só medo
Vinícius M. Maciel

quarta-feira, 27 de março de 2013

''A Dama dos Tecidos''


Você está feliz, isso que importa – longe de mim
Contento-me, e despenco do último andar, goela abaixo do precipicio
Te vejo no ar, feito uma pluma – teu corpo nunca fora o mesmo
Como um anjo caído em tecidos, feito a mulher triste do circo
que sempre quis e quero, saber o nome…
Parada, é feito estátua grega, e em movimento
feito a brisa fresca do ocaso vindo do mar…
Estou desesperado ante ao teu sorriso que é longe
Oh, bailarina do meu coração!
 - Dance em minha cova, dance em minha cova…
Vinícius M. Maciel

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

''O Homem Descrente''


Deixa crescer a barba na cara feito uma promessa
Porém, é por puro remorso, aquele mesmo do filósofo
Com aquela preguiça dos que só veem a vida passar
Nos portos de solidão vendo a esperança em um barco zarpar…

O amor é o operário da destruição de todo homem
O mais enigmático dos sentimentos
Da mesma veste que acoberta os criminosos
Te rouba não o brilho dos bolsos, mas sim o brilho dos olhos

E deixa a se lamentar o homem por acres sabores
Descrente de tudo, nada mais sente
E tem toda lágrima furtiva furtada por maus duendes
Doudo da cabeça fica, doído do peito, um fantasma de carne
 - Desgraçou-se!
Inábil, nada mais alenta, nem o acalenta…
Vinícius M. Maciel

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

''A Assombração''


Caminhava como de costume pelo cemitério
Procurando em que cova serei eu soterrado
E que maldita caveira será minha vizinha
Era noite, nada se ouvia além dos corvos
E nada se via se não o feixe lunar vindo do céu trevoso...
Corria ali um vento seco e frio
Como um triste avio de tristes espíritos
Arrastava folhas secas como os próprios corpos
E mortas como a própria alma
Eis que surge a aberração,visagem tanto falada
Ó assombração temerosa, entre a bruma devoradora!
E com uma voz de calar mortais e Deuses
Me lança uma pergunta feito um gládio gelado nos ouvidos:

-        Quem és tu, tolo andarilho
Tuas passadas são a mim familiares
O que tanto por aqui curia
Incomodando o sono dos que há muito dormem?

Apesar do medo que congelava a espinha
Com a coragem que nunca tive em vida
Respondi com o peito erguido sem ponderação:

-        O que importa quem sou?
Olhe no sepulcro de meus olhos mortos
E verás um nome, nada além disso importa
O resto é tristeza imunda!

-        Vejo que és um maldito, pobre andarilho
Espera teu ponteiro chegar ao fim
Ou o último grão de tua ampulheta cair
Se és tão triste e a morte desejas
Espere-a como todos esperam
Ou banhe em sangue essa carcaça pútrida que tu vestes…
Vejo na fronte de teu crânio coberto por essa pele fina
Nascer uma flor de agonia
Deixa então com que o manto da morte te encubra
E que venha ao encontro daqueles que perturba

-        Mal sabes o quanto este abraço eu anseio
A última gota para que o copo transborde
E o veneno no vinho que ocasionalmente eu beba
Porém, sou covarde
Podereis ser tu a taberneira de Lúcifer a me servir?
Um trago de impulso pr’eu me encontrar e me perder
E que em um último feixe de luz, uma lâmina rápida
Ou um raio de pólvora certeiro, eu venha a me findar...
Vinícius M. Maciel

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

''Renúncia''


Eu quero lembrar e não mais sentir dor
Quero que lembres também, e sorria
Quero que o passado não seja uma ferida
Então, não chores, tem lágrima em mim o suficiente para nós dois
Meu peito um dia se acalma
Difícil foi ter que desistir
Foi como se meu coração tivesse que mudar de casa
E o meu amor fosse obrigado a se render
Vou seguir, não mais teu sorriso
Quero um abraço amigo – recusaria até um último beijo
Vou, e tenho medo
Quando novamente te olhar, quero encontrar paz nos teus olhos
Quero a tranquilidade, não a de um morto
Vou reaprender a viver (sem ti)
Não direi adeus, direi até logo
Eu te amo, e odeio ter que deixar de te amar
Que a amizade sufoque
Para eu voltar a respirar…
Vinícius M. Maciel

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

''Tenho(?)''



Eu tenho energia elétrica, eletrodomésticos do futuro
Ondas, sinais e falta de tato
E desvalorizo o fogo que há muito fora roubado dos Deuses
Tenho dedos que falam, um telefone bêbado…
Tenho tudo em um quarto, em um espaço quadrado
Quartos, sala, e outra sala
Tenho ocupações, repito, disse que repito, as minhas ocupações
Eu tenho todo um mundo, e tenho um mundo de medos
Meu maior conforto é o conformismo
Tenho um menu de mortes à disposição
 - Qu'é a vida, se não: Abandonos e exageros?
Necessito abandonar tudo, viver
Necessito viver, para não abandonar tudo…
Vinícius M. Maciel

sábado, 5 de janeiro de 2013

''Paixão Hedionda''


Consigo ver o morto que sai do caixão. É hedionda sua paixão, pobre morto putrefacto. Sinto-me assim ao acordar na doce manhã de jasmim, ao mesmo modo do defunto apaixonado, comigo meu coração desgarrado, que ama sem temer morrer. Acorda sempre disposto a se arruinar, como o Sol rui no arrebol... e é a noite que me arremata o miserável gosto, o gosto rude da cal.

- Saiu de sua cripta lânguida, ó Nosferatu, besta infernal!

Estou eu, ante ao desespero
, impávido, como o coveiro está para a enxada e a sepultura, e o moribundo está para a doença e o funeral.
Vinícius M. Maciel