terça-feira, 31 de janeiro de 2012

‘’O Afortunado’’

Tive sorte, talvez merecesse
Tive sorte, pois talvez tu merecesses mais
Queria ter alguém para agradecer
Deus, quem sabe?
Quem viu?
Quem me viu sofrer em preces escondidas?
A vela acabou, o fogo apagou, a cera secou
Mérito meu teria sido?
Apoio o ego nos ombros, bato no peito de orgulho
Da tristeza nunca vou largar, talvez por segundos
Milhares de segundos ao teu lado
Perdi as costelas como Adão
Mas foi para arrancar-me fora o coração
E dá-lo a alguém que cuidaria melhor do qu’eu
Sou afortunado, pois é tesouro o teu sorriso
O brilho perlado dos teus olhos
De profundidade d’onde os minérios se escondem
Beleza maior seria inconsebível
Das curvas perfeitas dos vales, me perco na sensibilidade do toque
Feito vampiro a tua jugular encho de beijos
Calorosos os teus lábios me aquecem
Isso é mais do que na vida almejo
Se Deus fez algo melhor, guardou pra Ele
 - Em minha cova nasceu uma flor…
Vinícius M. Maciel

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

‘’A Fadiga’’

Tudo é tão previsível
Eu não tenho medo de morrer
Tenho medo desse desespero
Do grito que não se propaga no vácuo
E do vazio universal que sinto em meu peito
Essa fadiga entediante
-        Se chama ela, vida!

Esse silêncio ensurdecedor me engulha os tímpanos
E esse ócio aterrador, que só me empurra para o pântano
Me corta os tendões dos pés e me arrebata ao chão que sente
Minha cama não me conforta em sono
As noites são sempre cada vez mais sofrentes
Será que meu descanso será mesmo só em uma cova quente?

Enojo a saúde desses sátiros saltitantes
Incumbidos de amor, esse licor de inebriante felicidade
Esse vigor imunitário enganador
Sou eu, aquele monstro solitário que só se esconde
E todo aquele bicho que na floresta clama
Com certeza é meu parente distante
Vinícius M. Maciel

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

''Sob o Pé de Goiaba (Infância Minha)''

Feito goiaba sem casca que parece um encéfalo
Caída ao chão é feito um crânio em dilacero
E quando podre ou de maturação demasiada
A goiaba de fato é a fruta do esfacelo
Da qual fecundas de vermes abundam
E que noturnas mucuras devoram;
Da goiabeira me lembra a infância
Brincava sempre a trepar pela mirtácea
Mal sabia que quando a velha árvore foi cortada
Cortada também foi minha esperança
Vinícius M. Maciel

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

''Tânatos''

És tu que vejo, Tânatos?
Pois das sombras as quais me ergo
São tuas asas que vejo bater
E há muito por ti anseio
Desd'os tempos que um corvo fui
Aos tempos que uma rocha tentei ser
Estás só de passagem
Ou finalmente vieste me buscar?
Visto a mortalha casualmente
Se outro dia resolver voltar
Do mesmo jeito pronto, de grado estarei
Talvez seja assim, desde a carne que o osso confronta
E o espírito trôpego cujo a passada reluta
Mais nada em vida o coração afronta
Se não levar-me hoje, que assim seja
Eu espero com desgosto
Algum vinte e um de agosto...
Vinícius M. Maciel