Vinícius M. Maciel
domingo, 25 de novembro de 2012
'’Cinza''
O mundo é triste, cinza e morto. Monocromático, e frio como
um defunto de lábios roxos. O mundo é cinza mesmo de dia, como brasa apagada, e
a poeira escondida que não quer ser achada, nos confins do debaixo, de antigas
tapeçarias, desbotadas, também cinzas, onde qualquer moribundo desistido da
vida se enfia. Um aglomerado de almas, vultos, fantasmas, monstros, meus parentes,
meus irmãos sofridentes. Sofro, e é só isso que o mundo me permite, quanto mais
nos dias tristes, mas em nenhum deles há felicidade, então sou triste todos os
dias, quanto mais nos dias cinzas, quanto mais nos dias que vivo. O mundo é uma
cova, de umbrais pelados, de dias nublados e pedestais sempre descalços. Pragmático, previsível - mil tons de cinza para a felicidade invisível, e assim cinzento vivo.
''Fim''
Em ruínas.
Continuo…
Aqui contigo; tu sem mim.
Tudo acabou,
minha vida também
Triste.
Nunca mais serei, mas nunca fui
feliz…
Vinícius M. Maciel
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
''Sinônimos''
Lôbrego, plagente, escuro
Abatido, penoso, soturno
Angustiado, tristonho,
enfadado
Moribundo, fatídico, solitário
Pesaroso, lúgrube, deprimido
Pungente, medonho, tristonho
Quérulo, desgostoso, nefasto
Funesto, fúnebre, funéreo
Taciturno, mofino, infeliz
Macambúzio, sorumbático,
endoado
Precário, mágoado, aflito
Deprimido, lamentoso,
atormentado
Melancólico, sofredor,
hipocondriaco
Pavoroso, infausto, depressivo
Lutuoso, miserável, ridículo
Amuado, fraco, sombrio
Enfim, sou triste, sou tristeza
E sou o poeta e seus sinônimos
Vinícius M. Maciel
domingo, 11 de novembro de 2012
''Porfiria''
Perpétuos seres da noite,
negros poetas do obscuro
Despertam no calar do
crepúsculo
E no calor do desejo oriundo
do sangue
A porfiria de roxas verdades
Deficiente enzimático profundo
Não mais a pobre síntese do
Hemo
É o que diriam os próprios
médicos acusadores
Que proferem agora
diagnósticos hipocondríacos?
Bate em tua própria boca, ó
maldito!
Condenam o misticismo em um
mundo que tudo é possível?
Acreditará no dia em que tua
jugular for beijada
Pelos dentes tristes de um
vampiro!
Vinícius M. Maciel
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
''O Corvo e a Rosa''
Minha bela
tem a pele delicada feito uma rosa, um porcelanato. Tem um rosto de extrema
perfeição, deve ter sido moldado cuidadosamente por Hefesto. Teus olhos são
tentadores e petrificantes, seus lábios contem o néctar mais raro das flores.
Pobre de mim, um pobre corvo, que as coisas mais podres come, e uma antese
nunca na vida presenciou, e as únicas flores que olhou, foram aquelas deixadas
nas tristes criptas solitárias. O que trago comigo são só maus presságios, como
poderei ter um dia, tal rosa tão linda?
Mesmo qu’eu
morra na iniquidade espinhosa de teu caule,queria ter-te um dia antes de murchar,
queria ver-te vermelha antes de sangrar, queria olhar-te branca antes de
desbotar, queria amar-te negra, pois só assim posso te amar.
Vinícius M. Maciel
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
''O Cão Lamentoso''
Hei
de andar nessas ruas, o cão escleroso
Uma
carcaça ao meio dia, sob o Sol impiedoso
Há
de bufar agonia, toda essa hipocondria
Está
só pele e osso, maldita seja essa patologia
Seu
corpo todo envolto de um flertar de moscaria
O
urubu carniceiro, paira longe a sua mira
É
de enojar essa epiderme, ó alastrado enfermo esta pira
Até
para o triste verme polífago
Que
ama o funeral de epidemias
Fede
mais que o próprio morto
Nas
vésperas da missa de sétimo dia
E
nada de mais lamentoso
Hei
de escutar um dia, se não o cão pavoroso
A
uivar melancolia
Vinícius M. Maciel
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