Não ouvi o que o Padre murmurou no ouvido do morto, provável
que despachava a alma do próprio, perdoada, para o céu ou o limbo. Quem sabe,
nem o próprio morto deve ter escutado, se finado, não deve ter ouvido. Passava
eu pela rua, ao ver aquele suicídio…
Os tolos pombos ainda estavam dispersos, assustados com o
baque, e apesar da manhã fria, o sangue que feito cascata corria, ainda estava
quente com as células em desespero. Se formou logo um alvoroço, de cochichos e especulações, feito formigas que cercam o doce. Sorte que o Padre por ali
passava perto, e com o bafo de café lamentou o morto.
Deve ter sido de fato confortante a brisa que acariciou o
magoado rosto, nos poucos segundos de intervalo da queda, e do beijo rente a
calçada. Aquele sangue rubro fascinante – e apesar da cena infame, os olhos eram pacíficos de horror, e da maior dor finalmente se livrou.
Vinícius M. Maciel
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