sábado, 27 de dezembro de 2014

''Chuva (À espera...)

Espero que a chuva chegue logo
E não me engane mais com esses dias nublados
Que seja a canção dos meus dias inteiros
Com aqueles pingos ininterruptos
Inundando enxágua o peito
Com águas saudosas de chuvas de outrora

Lembro-me dela bem mais que o Sol
Que me queima tez em dias comuns
A chuva, que por si só é especial
Deixa com frio meu coração da linha do Equador
Gosto dos temporais lá fora
Para que acalme o temporal de aqui dentro
Gosto da chuva, pois é doce
E esconde assim todo o sal lacrimal...

Vinícius M. Maciel

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

''Pomar de Caveiras''

Gosto das maçãs do teu rosto
Imagino sempre um pomar de caveiras
Gosto das órbitas onde teus olhos habitam
Imagino a escuridão e a cegueira
Aprecio a natureza morta do teu corpo
Graciosa feito a manhã de jasmins
Preguiçosa feito o morto de frente a lareira
Suspenso entre as flores do jardim
Pousa em tua janela sempre o mesmo corvo
Rego aquele jarro sempre a mesma semente
Mas nenhuma flor me desmente
E nem a morte sorri para mim!

Vinícius M. Maciel

sábado, 11 de outubro de 2014

Samsara (A injúria da vida, ou seria da morte?)

Fico louco em pensar na morte!
Tarde ou cedo, me desespero
De agonia me incendeio
E um vazio fatal, toma conta do peito
Trata-se sim de uma injúria
Da única injustiça que é justa
A de não ter voz no pleito
Samsara é um rio sem leito
Onde abundantes lágrimas desaguam
E que flui se alimentando de medo

Vinícius M. Maciel

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

''Géia da tristeza''

Tu és massa fecunda, ignóbil e sem par
O mais podre lixo orgânico
Dos genes e dos germes que se agrupam
Proliferando o mal secular!
Sai das próprias vísceras, a ideia de cura
Pr’esse terror vil que te afunda
Te acorrenta e te joga no fundo do mar
Quiseste bem, com audácia,
Domar a tormenta de um vespeiro
Tem a coragem do herói trágico grego
Mas sua morte é a única glória que peleja
Fracassado e fadado a derrota
Carrega o pejo de um pária, ou poeta
Qual seja!
Ama a mulher, a Géia da tristeza
E toda noite, no seio de um demônio se debruça
A escuridão é o único Deus que festeja
Mas é no lusco-fusco ao mar
Que de alguma forma se acalenta
E toma de exemplo o Sol, que todo dia morre
Para n’outro dia desinibido nascer
E assim caminhando,
insistindo viver…

Vinícius M. Maciel

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

''A Maldição eterna do meu Eu''

Fim de noite, triste alvorada
Ouço só, a conversa entre o vento e as folhas
Calado, me atento a não escutar o frio
Que me gela a alma imortal
Trazendo a solidão de outras eras
Do primórdio do meu eu poeta
À origem do meu eu sofredor
Todos suplicam por pouco
Para que cesse esse suplício sem pudor!
E se um gênio ardiloso
De uma lampada mística surgisse
E oferecessem os tais três mágicos pedidos
Seriam eles:
Tragos de vinho, tabaco e uma morte bela
 - Embora toda morte seja bela
E ai dos queixumes mundanos
Me sigam além da carne em outro plano
Morro de novo
Até meu coração morto
Reencarnar desmemoriado outra vez

Vinícius M. Maciel

sábado, 30 de agosto de 2014

Hoje

Hoje não estou pra multidão
Queria uma garrafa de conhaque vagabundo
Porque hoje, cerveja alguma aquece minh’alma
Queria beber calado, afogando toda e qualquer
Palavra atrevida que teime em querer sair
Da boca
Beber e ficar surdo, para não ouvir o coração
Perder o tato na ilusão que é te tocar
Fazer da garrafa uma jaula
Que eu me sinta bem melhor dentro
Que no lado de fora que me aprisiona
Hoje não estou para comunhão
Devo morrer hoje, bem mais do que em outros dias
Da preguiça da sobriedade
Ao tédio da embriaguez
Do beco sem saída que se tornou essa falta de prazer
Tanto na perda, quanto na manutenção da lucidez
Hoje, a monotonia da ressaca de ontem
Junto a ressaca de amanhã!

Vinícius M. Maciel

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

''Sem Sair do Lugar''

Pra que,
Saber o que se quer ser, quando não se sabe o que tu és?
De nada basta!
Saber o que, se pra ti o que é o bom da vida
Imensamente te faz mal?
Quando a tua ideia de liberdade
Te aprisiona
E a ideia mais pura de amor
Pra ti se torna fatal
Nunca basta um gole, um beijo
Uma lágrima, pois sempre se quer mais
Querer tudo na vida e não querer viver
Trazer tudo pra perto e partir
Como um suicida ter medo da morte
É um pássaro ter medo de voar
Pois é assim que me movo
Sem sair do lugar…

Vinícius M. Maciel

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

''O Silêncio da Noite''

O silêncio da noite esconde ruídos assustadores
Que atormentam o coração temeroso do pobre homem
Asas negras, noturnas e um olhar turvo
O vento é lento, cortante e gelado
Gritante as folhas secas no chão se arrastam
A escuridão velada pela Lua, triste e solitária
Como no velório de toda a humanidade
Choram os que ainda tem lágrimas
Todos dormem: pois o sono é o presságio da morte
O pranto é sinal de luto
E o luto mascarador da inveja!

Vinícius M. Maciel

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

‘’Nota de um homem que ficou frente à frente com Deus e não morreu’’

Caiu pesado feito uma pluma
No estardalhaço de um ruído
Sem fé feito um anátema
Travestido de bandido

Sorriu ao ver um clarão forte
Pensou logo ser a morte
Ou as alucinações do corpo partindo

Não pensou
Nem em Deus, nem no Diabo
Nem no seu pai, coitado
Ou em sua mãe, inconsolável

E de repente, tudo escuro
Se ouviu um sagrado urro
As trompetas estonteadas
Pela ilustre alma que chegara

Nos portões do céu
O vazio e o nada
Só a triste jornada
Da universal solidão

Que triste ser eterno
Ai dos Deuses, eu não quero!
Quero mesmo é ser terreno
Com o caixão afundado em plena terra

Não sei se é o céu o que vivo
Mas no inferno me sinto
É no silêncio, meu suplício
A maldição da eternidade!


 Vinícius M. Maciel

quinta-feira, 31 de julho de 2014

''Nada Passar...''

Não consigo deixar nada em mim só passar
Tudo em mim fica, perdura
Como chuva de verão
Que por ela se alastra, alaga e dura
Meu coração tudo quer
Todo amor
E toda tristeza do mundo
Quer azar e sorte em tudo
Sorrir com a ferida na pele
Com a faca cravada nas costas
E chorar uma vez em ser feliz
Por não se estar muito acostumado
Nada ele esquece
Nenhuma memória é turva
Toda dor se enlarguesse
E na solidão se amargura
Ainda amo o que amei
Amei tudo querendo morrer
E morro hoje amando
Com meu coração sufocando
Sem querer deixar nada passar

Vinícius M. Maciel

quinta-feira, 3 de julho de 2014

''Âncora''

Minha cabeça em eterna barafunda
Afunda
Com o peso de uma âncora em cada lágrima
Entre as cordas rudes da barba
Que flutuam
Na água turva, se afogam
Rangem os amarelados dentes
manchados
Entre o bigode em meio a cinzas
Dos vestígios do cigarro
Lábios rachados
E o sorriso fadado a dias de festa
Se esconde no silêncio
do vazio empoeirado
da confusão de tua cabeça!

Vinícius M. Maciel

''Morrer''

Estou morto
Sei que estou
Sinto o toque dos vermes
E o frio do chão roxo
A delicadeza da paz
É como dormir sem sonhar
A escuridão se torna familiar
e acolhedora
Como para Cristo, a manjedoura
Morrer;
É enfim, encontrar o amor
Morrer é amar
sem sofrer
sem sentir dor
Vinícius M. Maciel


terça-feira, 10 de junho de 2014

''Mulher Triste''

Me admira as mulheres tristes
Com o olhar opaco que não fixa em nada
se não o nada
Com as olheiras tristes sem chorar
Jurando não mais amar
Sendo que o faz, sem amor nenhum à própria vida
Bebe feito um estivador irlandês
Calada…
Torço para ouvir a doce voz
Ou até que grite
De desespero por outro trago
Ou por uma companhia, mesmo expulsando-as
Sempre
Torço para que sofras, sofras sempre
Comigo

Vinícius M. Maciel


quinta-feira, 5 de junho de 2014

''O Precipício''

A mera reflexão me deu náusea Me levando à queda Da vertigem que dá olhar a beira do precipício Ele te olha de volta E então, o precipício é você O infinito que não cabe no teu peito Onde nada pode subjugar essa imensa fenda Sob o buraco sem fundo Uma ponte: Que ninguém se arrisca a passar

Vinícius M. Maciel

sábado, 19 de abril de 2014

''Sem Norte''

Nunca pensei que seria assim
E que a minha vida tomaria tal rumo
E a minha iminente morte viesse a tona
tão cedo...
Tão cedo.
Deus é cruel feito o homem
Mas fui eu que rebentei minha própria ruína
Fui intenso como uma erupção
Amei por mais de uma vida
Bebi sempre no gargalo
E a dose toda num trago
Chorei no colo da prostituta
Mas meu sorriso sempre foi dela
Minhas lágrimas também
Minh' alma
A calma
Meus olhos cegos e perdidos
Com a indecência de um bandido
Arranquei minhas entranhas
E pus o monstro do dédalo pra fora
Achei a morte, a doença
Sem norte
E depositei meu amor no lixo


Vinícius M. Maciel

quinta-feira, 10 de abril de 2014

''O Náufrago''

O amor é apenas coito, é gozo
E eu não consigo mais amar...
Não sei que bruxaria ou sortilégio me atingira
Tenho asas e não posso voar - como o galo
E tudo que pendia ao canto agora é rouco
Sem alicerce algum despenca
Já me é tão familiar o fosso
Que nada mais me alumia os escombros
Por Deus!
Que males ou sacrilégios cometi?
Pecado foi o teu de ter me trazido à vida!
Só uma centelha me resta ainda
Lúcido eu já não mais fico
Sou o náufrago em um mar de vinho
Se sento a proa em uma ilha
Onde eu mato a sede sempre à beira
Deixo o amor à deriva
E me isolo na solidão de um misantropo
Vinícius M. Maciel

terça-feira, 8 de abril de 2014

''O Martírio do Poeta''

O maior drama do poeta é não poder escrever
Quando não se sente mais nada no peito
Se não o vazio existencial de suas queixas
E o delírio pela dama inexistente

Amar não ter mais o que amar, é desespero
O poeta vive da esperança, e sofrer se torna apego
Mas quando é ceifada a vista do horizonte
Onde se olha e nunca se chega
Pode ser então engolido pela terra preta

Um poeta vazio é mudo, quase um defunto
Que anda por ai sem alento
E grita pra dentro, na esperança que esse buraco tenha fundo
E que o eco lhe traga uma resposta que não seja a pergunta

É triste ver o poeta em agonia
Sua decadência nunca fora dantes tão feia
Macambúzio feito os lázaros disformes
Tem preguiça de morrer mesmo sem cura
Viverá a vagar sem alma
Vai se embriagar inté ficar louco
Se perdendo nas páginas da própria existência
Vinícius M. Maciel