Que vermiformes carniceiros em ti esconde
Por todo podre coração alastrado
É negro e viscoso este enfermo
De profundas cavernas pulmonares
Está preto o sangue que nas veias corre
Que pelos olhos feito lágrima escorre
A escuridão formosa dos mistérios
E o calor ardente dos delírios
Não sei de que todo o esforço vale
Se teu estado mórbido é preponderante
E até tua sombra à caquexia está entregue
Com tu'alma imersa em peçonha
Mesmo a enfermeira que tanta morte assistiu
Embrulha o estomago ao ver teu corpo vil
Sentir-se enojado pelos próprios parentes
E cortejado pela obsessão dos vermes
Feito estercorário no engulho excremento
Teu corpo é um imã de carmas desgraçados
Não sei quantos gatos pretos olhou
Ou quantos espelhos quebrou
Pois tem vocação de um mestre infortunado
Deve ter atirado pedregulhos na cruz
Pois sofre mais que o crucificado
Com chagas que o vermelho na alma reluz
À espera da morte igual condenado
Hei de um dia cessar essa intracefálica tortura
Pois só uma coisa ainda murmura
Pede a morte mais que a cura
A desvinculação com este corpo morfeico
Como o atrasado crepúsculo de solstício
Finalmente cumpre seu intento
De corruptas necroses em feridas
Finalmente larga a vida, e tem o corpo levado pelo coveiro
E a alma extinta da existência
E se já não tarde, a dor se finda
Igual papiro velho tua foto desbota
De um amarelo lôbrego como os olhos de um anêmico
E esfarela na imensidão do esquecimento
Das próximas gerações de teu primogênito
Vinícius M. Maciel